Para fugir dos altos e baixos hormonais, da TPM e das cólicas, mulheres tomam pílula sem pausas e cessam os sangramentos mensais.
Tire suas dúvidas sobre essa opção!
A prática começou a ganhar adeptas não só entre as que sofriam de TPM e endometriose — quando células do revestimento uterino se espalham por outros locais, inflamam e causam dor — mas também entre as interessadas em conforto ou maior qualidade de vida. Mulheres cansadas de sangrar todo mês estão optando pela suspensão temporária da menstruação.
O primeiro médico a defender a medida foi Elsimar Coutinho, ao lançar o livro Menstruação, uma Sangria Inútil (Gente), em 1996. O ginecologista baiano argumentava que não fomos feitas para sangrar, mas para ter filhos. Sua tese provocou polêmica: havia muitas dúvidas sobre o risco à saúde para quem fazia tal opção e, àquela altura, as brasileiras já tinham conseguido reduzir a taxa de fecundidade no país para 2,49 filhos por mulher — hoje, a média nacional é ainda menor, apenas 1,9.
Com o tamanho da prole sob controle, a parte da tese de Coutinho que passou a interessar mais foi o conforto de banir os sangramentos da agenda mensal. Quase uma década depois do livro, estudos passaram a demonstrar que a suspensão trás benefícios.
Uma revisão de vários trabalhos publicada em 2005 na revista científica Current Opinion in Obstetrics & Gynecology mostrou, por exemplo, que o sistema proporciona maior eficácia contraceptiva, sem alterações sugestivas de doenças no endométrio.
O natural não é menstruar?
Não há consenso. O ginecologista Malcolm Montgomery escreve no livro Mulher, um Projeto sem Data de Validade (Integrare) que o natural é a mulher estar grávida ou amamentando e não ter ciclos regularmente. Ele afirma: "Ao evitar a gravidez, a mulher contemporânea dribla a biologia.
A consequência é um excesso de períodos ovulatórios e maior incidência de males relacionados à menstruação" Pelos cálculos de Montgomery, nossas bisavós tinham de 40 a 80 ciclos menstruais na vida porque engravidavam muito mais. Na mulher atual, esse número passa de 400.
Outros médicos pensam de modo diferente. "A menstruação é um processo natural indicando que naquele mês não há gravidez", diz a ginecologista e terapeuta sexual Mariana Maldonado, coautora do livro Palavra de Mulher (Integrare). "Só que, por mais que seja natural, é um período muito incômodo e às vezes há dor. Aí a suspensão pode ser uma alternativa."
Para quem se recomenda a suspensão?
Há diferentes benefícios. Como acaba com a oscilação hormonal, a medida alivia todos os sintomas da TPM, incluindo as variações de humor e o inchaço provocado pela retenção de líquidos. O ginecologista Rogério Bonassi Machado, presidente da Comissão Nacional de Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), lembra que "a menstruação induz inflamações no revestimento uterino (a endometriose), o que pode ser evitado simplesmente com a supressão". Também combate a doença inflamatória pélvica - em que o aparelho reprodutor é atingido por bactérias sexualmente transmissíveis.
E há outras indicações clínicas, como cólicas intensas e miomas (tumores benignos no útero). Sem contar a adoção por conveniência. As atletas da seleção feminina de vôlei, vencedoras do ouro olímpico em Londres, são um exemplo disso. Profissionais com rotina atribulada têm justificativa semelhante: evitar a queda no rendimento provocada pelos altos e baixos hormonais.
Toda mulher pode se beneficiar?
"Não se deve generalizar. À luz da ciência atual, é positiva a suspensão, mas vale levar em conta o significado que o ato de menstruar tem para cada uma", analisa o psiquiatra Joel Rennó Jr., diretor do Programa de Saúde Mental da Mulher do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. "Muita mulher vê a menstruação como sinal de que seu corpo está bem, de que ela é fértil e entra em conflito se pressionada a suprimi-la."
O médico ressalta que a medida não é obrigatória para ninguém: há outras possibilidades de tratamento, inclusive para TPM severa. "É preciso tomar cuidado para não se deixar levar pelo modismo e fazer a própria escolha."
Segundo as autoras, Carmen Porto Ribeiro, Elen Hardy e Eliana Maria Hebling, livrar-se de imposições biológicas, como engravidar, dar à luz, amamentar e engravidar novamente, foi uma das grandes conquistas femininas. Safar-se da "obrigação" de menstruar é, para as pesquisadoras, a segunda etapa da mesma revolução.
Antes de seguir por esse caminho, porém, vale dirimir qualquer dúvida para avaliar se é a melhor escolha para você.
(Fonte extraída da Revista Claudia)