Obras
* Capital do Amor
* Cantar por São Luis
* A Noite
* Ledo Engano
* Manhã
* O Lobo
* Procura
* Sonho
* Voar
* Razão
* Por do Sol
* Flores
* Em Nome da Fé - Família Pinto
Crônicas
* Dia da Mulher
* Balé das Larvas
* Vida de Lagarta
Gracilene Pinto
CAPITAL DO AMOR
Ó querida São Luis,
De sobradões e ladeiras!
Que estejas sempre altaneira,
Nos séculos que virão.
Que essa brisa suave,
Refrescante dos teus dias,
Venha plena de alegrias
Ao teu velho coração
E desperte no teu povo
Mais zelo, afeto, cuidado,
Pra não deixar o sobrado
Da História vir ao chão.
Que aos oitocentos anos
Possas, embora bem idosa,
Dizer sempre vaidosa
Que ainda tens o galardão
De ser terra de poetas,
A Atenas Brasileira,
Linda, culta e brejeira
São Luis do Maranhão!
Neste teu aniversário,
Vou cantar em prosa e verso
Teus dias cheios de calor
Os teus largos horizontes,
Teu mar, teu sol, o teu céu
Cheio de vida e de cor.
Tua noite de lua e estrelas,
Reggae, tambor e a cadência
Do cantar do trovador,
Que faz de ti, minha amiga,
A hospitaleira e antiga
Capital do meu amor!
CANTAR POR SÃO LUIS
Querida São Luis,
Nem longe alvitro
Um viver longe de ti, do teu calor.
Teu aconchego de colo materno
É o que me dá a existência vida e cor.
Longe de ti falece a musa, morre o bardo,
Todo fragor pulsante da inspiração.
Junto de ti ressurge a alma da poeta
Ruflando as asas no éter da amplidão.
Quero estar sempre aqui...
Como menina plainar meus sonhos sem ferir meu ideal.
E quero ouvir no estertor da madrugada
O piar alegre dos pardais no varandal.
Na alegria da manhã ensolarada
Eu quero ouvir do pregoeiro o grito forte,
Recordações ainda do velho Portugal.
Quero encontrar Nauro na Rampa do Palácio,
E ter vontade de cantar uma canção,
Indo assistir a uma missa celebrada
Com a fé e a força do Monsenhor Hélio Maranhão.
Ouvir uns versos na voz quente e menineira
Do poetinha das Razões do Coração.
Quero, na agonia do momento derradeiro,
Sentir teu cheiro antigo, rescendente a sapoti.
Sentir que a vida fez sentido...
Sentir-me completada
Dos olhos ter fechado estando aqui!
MANHÃ
Manhã de sol,
Manhã de céu,
Manhã de luz,
De bem te vi e rouxinol
Cantando ao léu
A sinfonia celeste que seduz.
Sol ardente,
Céu de anil
Com nuvens brancas,
E a brisa fresca
Cantando a sua canção
Sempre contente
Varrendo praias, barrancas,
Varre também
As mágoas do meu coração.
O LOBO
Na vastidão da floresta
dois olhos brilham no escuro,
fosforescentes, dourados, como cristal límpido e puro...
A quietude é uma incógnita
E atemoriza os incautos
Quando o dono desses olhos
Uiva sonoro, em contralto,
Seu forte canto de amor,
De encanto, de magia,
Mirando o esplendor
Da lua a penetrar na galharia...
Nest´hora a floresta pára!
Nem mesmo o vento se escuta!..
E a noite se perpetua...
Pois, nada mais se compara
Ao idílio apaixonado
De um lobo uivando p´ra lua!
PROCURA
Lá, muito além do arco-íris,
Onde o sol namora a lua,
Desde o começo dos tempos
Minha alma busca a tua.
Pelos rios, pelos campos,
Montada n´asa do vento,
Nessa busca, meu amado,
Viaja meu pensamento.
Foi assim desde o começo
Dos tempos que Deus criou,
Minh´alma sempre buscando
Completar-se em teu amor.
O meu corpo te deseja,
Se te acha, em ti se enlaça.
Se minha boca te beija,
A minha alma te abraça.
Sonho
Jasmineiros em flor...
É primavera!
No seu noturno olor
Doce quimera.
Minha alma vivencia
O sonho mais bonito:
A tua mão na minha, o teu calor,
E nós dois livres, serenos,
Voando no infinito.
VOAR, VOAR
Voar, voar,
Livre voar
Solta no infinito...
Voar bem alto,
Mais alto,
E em um sonho mais bonito,
Como mulher de alma menina,
O infinito azul tocar
Com minhas mãos
De fada purpurina...
Alçar o céu com minhas asas
Áureas emprestadas pelos anjos,
E muito leve voar
Pra despencar
No mel da tua boca,
E a rosa rubra e louca
Florir com teu doce carinho,
Pra ser feliz como só posso ser feliz
No aconchego morno
Das plumas do teu ninho.
(Gracilene Pinto, in NA ASA DE UM COLIBRI)
RAZÃO
Num livro antigo
Achei, escrito a ouro,
Uma frase sábia
Que com a vida condiz.
Direto, sem rebuços,
O filósofo obscuro
E esquecido nas brumas do passado
Sabiamente diz, Que é ledo engano
Buscar-se ter sempre razão,
Se a verdadeira razão
É ser feliz!
Por do sol
Da porta de casa eu vejo,
Mais um dia a se findar...
Penso em Deus
E minha alma
Abre-se de par em par
Deixando entrar o sol, a brisa,
E o som das ondas do mar..
Se funde com a natureza
Em perfeita sintonia,
E o silêncio é o compasso
De uma eterna melodia.
FLORES
(Moaxaha de Gracilene Pinto)
Flores, flores,
Pedacinhos de arco-íris multicores
De tantos tons e matizes
Que nos deixam mais felizes
Na alegria do jardim.
São dádivas preciosas,
Delicadas, olorosas,
Que o Deus da misericórdia
Nas manhãs sempre concorda
Em de novo dar pra mim.
Flores são do céu pedaços,
Do sol, delicados traços,
Que a boa Mãe Natureza,
Exuberante em beleza,
Vai desenhando pra nós.
São musas inspiradoras
Das lindas aves cantoras
Que em todo canto e recanto
Vão encantando com seu canto
Alvoradas e arrebóis!
EM NOME DA FÉ
Com fé já tracei meu rumo,
Não tenho medo da vida.
Guerreira forte não chora,
Mesmo se em alguma hora
For na batalha vencida.
Recuar numa batalha
Nem sempre é perder a guerra.
Pode ser sabedoria
De quem vive o dia a dia
Com uma certeza férrea:
Corre farto em minhas veias
Dando forças pra lutar
O sangue quente e guerreiro
Dos honrados cavaleiros
Do meu tronco milenar.
Eu descendo de Paio Pinto,
Nobre das terras do touro
Que lá em Santa Maria
Lutou pela fé um dia
Guerreando contra os mouros.
Com dignidade e fé,
Honro este sangue que herdei.
Ele tem muita nobreza,
Mas, a maior, com certeza,
É a que eu conquistei.
Sem medo enfrentei a luta,
Em nome também dos meus.
Se eu chorei ou se sofri,
Eu sei que a guerra venci,
E sempre com a fé em Deus!
Gracilene do Rosário Pinto
CRÔNICAS
BALÉ DAS LARVAS, A DANÇA DA VIDA (Gracilene Pinto - 17/09/2012)
Todo dia me surpreendo com o ser humano. Algumas vezes, a surpresa é boa. Outras, nem tanto.Mas, isto é natural.Porém, o melhor é que sempre as boas surpresas me veem mostrar que apesar de existirempessoas obtusas, ignorantes, insensíveis e mesmo más aqui na Terra, não fomos esquecidospor Deus. No entanto, o reverso da medalha teimosamente persiste. Ainda nasce cá no planetinha azul seres sensíveis, iluminados e sintonizados com a Natureza e com a sabedoria do Universo. E o que é melhor: continuam eles a produzir muitos frutos para nosso deleite.
Hoje recebi uma mensagem do primo Joa a qual trazia no anexo um filme feito por ele mesmo. O conteúdo da filmagem era somente algumas larvas de mosquito se movimentando livre e artisticamente em um copo d´agua ao som de suave fundo musical da lavra artística do meu primo.
Ouvindo tal composição melódica e assistindo ao balé das larvas filmado por Joa fiquei a pensar na grandiosidade da Natureza e na sutileza da sensibilidade dos grandes filósofos e artistas que Deus em sua bondade permitiu que partilhassem esta vivencia conosco.
Eu já conhecia a grandeza poética do primo Joa. Sabia também da sua sintonia com a Natureza e do seu senso de observação. Mas, a cada dia me supreendo mais e mais com sua sensibilidade, com sua singeleza poética e com a luminosidade que brota de sua filosofia.
É lindo se ver uma tão grandiosa comunhão com a natureza. Joa conseguiu captar a grandeza artística de movimentos de dança na expressão mais simples das larvas de mosquitos em movimento no copo d´agua e captou na beleza das suas evoluções a sutileza dos acordes da divinal música das esferas, que passou para a sua composição musical. E ainda me dizia na mensagem: “embora não numa consciência refletida, a vida é logo bela desde o início”. Momento tão raro, tão sublime, inspirações como esta, somente ocorrem com seres realmente especiais.
Teria Sócrates, em sua grandeza, alguma vez pensado na beleza do balé das larvas de mosquito ou na paciência da larva de uma borboleta trabalhando em seu processo evolutivo? Querem saber como me senti hoje? Da mesma forma que senti quando li pela primeira vez o poema O NADA DE NENHURES, de Joaquim de Arievilo, o meu caro primo Joa, trabalho poético de profundidade e sabedoria sem precedentes que me deixa extasiada a cada nova leitura que faço dele. Nesses momentos sinto orgulho de ser prima do Joa.
Sinto-me maravilhada com a capacidade que tem o ser humano de perceber a origem divina da vida nas coisas mais sutis quando se permite sintonizar com Deus. Mas, sinto também muita tristeza de ver como os seres humanos, em sua cegueira, às vezes não conseguem perceber e dar a devida importância à presença em nosso planetinha azul desses grandes homens e seres luminosos como o são os Sócrates, os Platões, as Madres Terezas, os Ghandis, os Joas, pois somente muito depois de sua passagem pelaTerra é que nos damos conta da oportunidade perdida de desfrutarmos a beleza da sua companhia e das suas obras. Somente depois que eles se vão é que percebemos que poderíamos ter observado mais, aproveitado mais a sua sabedoria, aprendido mais com estes seres tão especiais.
Parabéns ao Joa pela produção do filme que batizo agora de: BALÉ DAS LARVAS, A DANÇA DA VIDA!
VIDA DE LAGARTA (Por Gracilene Pinto)
O primo Joa agora anda encucado com as lagartas. É tanto que, já andou fotografando, em todas as posições e ângulos possíveis e imagináveis, uma lagartinha avermelhada de mais ou menos cinco milímetros de comprimento que fez morada no pé de arruda do seu quintal.
O tal poeta, escritor, cartunista, musicista (que o cara é coisa pra chuchu), sequer respeitou a intimidade da bichinha, pois, numa invasão de privacidade sem igual, fotografou-lhe o momento da postura, o ovinho gerador de nova vida, e revelou em seus escritos até os mais recônditos segredos alimentares da lagartinha, quando esta come a casca da qual emergiu.
Mas, na verdade, as divagações do primo sobre a lagarta nos levam a refletir.
Primeiro, fica provado que a lagarta é mesmo um animalzinho infatigável na busca de alimento, labor necessário, porque a danada é também muito gulosa. Não perdoa nada. Nem as folhinhas mal cheirosas da arruda.
Segundo, ela é mesmo um serzinho persistente, que não deve ser uma vida muito fácil essa de lagarta, vivendo a arrastar-se por aí por um tempão de galho em galho, sempre a comer e comer, crescer e crescer, sem falar no momento doloroso da troca da pele, quando a vestimenta fica apertada e a troca de casaco torna-se uma necessidade premente. É bom lembrar, que a avidez insaciável da lagarta não dispensa a própria pele, que também é vorazmente devorada pela dona logo após ser descartada, tal qual aqueles cidadãos nervosinhos que andam por aí a comer suas próprias unhas e cutículas.
Porém, pior que arrastar-se pelos galhos, pior que se empanturrar de folhas e florezinhas, deve ser o período em que a lagarta se transforma em pupa, e fica, sabe-se lá quanto tempo, naquela prisão de regime fechado, até que se cumpra o lapso temporal estabelecido pela natureza para ressurgir, enfim, vangloriosa borboleta.
Às vezes são meses e meses de trabalhosa luta e de dolorosas transformações, desde a postura dos ovos até que o milagre aconteça. Mas, a lagarta não desiste. Após o estado larvar, as borboletas ressurgem livres, coloridas e lindas, a voejar com elegância e leveza fazendo contraste com o azul do céu e com o verde do mato, como pétalas multicores ao sabor da brisa fresca. É um longo período como lagarta, para, na maioria dos casos, viver apenas alguns dias como borboleta.
Será que a lagarta não desiste da luta porque, inconscientemente, sabe que após todo sacrifício, ressurgirá vitoriosa como elegante, bela e livre borboleta?
Terá a lagarta a consciência de que da luta de toda uma vida, ao final, desfrutará apenas o curto período de alguns dias como linda borboleta?